segunda-feira, 16 de maio de 2016

Bonifácio da Cruz: Barbeiro-sangador


A necessidade de privar com um barbeiro-sangrador, levou a misericórdia, em maio de 1699, a aceitar como irmão de menor condição, Bonifácio da Cruz. No seu registo de aceitação, o escrivão da santa casa explicitou o motivo que os levou a aceitarem o barbeiro-sangrador. Bonifácio era oficial mestre barbeiro e sangrador, possuía tenda própria e seria de muito préstimo para os pobres que se curavam no hospital, bem como, para os pobres do rol, que se tratavam em suas casas. A sua admissão a irmão foi aprovada por unanimidade, mas com condições. 


A profissão de barbeiro-sangrador era considerada mecânica e causava uma certa repugnância aos estratos sociais mais elevados, pelo facto de contactarem com o sangue e humores corporais dos outros. 

Trazer este indivíduo para o meio dos nobres, clérigos, doutores, mercadores e donos de tendas de ofícios considerados mais dignificantes, como os violeiros, alfaiates, espingardeiros, tinha um objetivo bem preciso. A condição apontada pela misericórdia era que o mesmo acudisse ao hospital ou aos pobres do rol sempre que os serventes da casa o chamassem. 
            
Bonifácio da Cruz comprometia-se, assim, a trabalhar gratuitamente para a irmandade, que já não teria que pagar a um sangrador externo pelos serviços. O referido barbeiro-sangrador passava a fazer parte da mais importante e prestigiada confraria da localidade e relacionar-se-ia com a elite penafidelense. Ao servir gratuitamente os mais pobres, o barbeiro estava, por um lado a exercer uma atividade misericordiosa, a ser um benfeitor e esta atitude aligeiraria as suas penas, quando chegada a hora da morte e tivesse que responder perante Deus. Para além disso, estava a prestar um serviço gratuito a uma irmandade conceituada, que haveria de não esquecer os seus préstimos e numa altura de aflição podia valer-lhe. Por outro lado, conhecia mais pessoas, muitas abonadas que, quando necessitassem de sangrias, a ele haveriam de recorrer.

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